sábado, 5 de agosto de 2006

tempus de música

O romance persiste em tornar o homem a dois, hemisférios cruzam informações demais ortodoxas que nos colocam a conhecer o que se denomina academicamente por carinho, ou mais globalmente por sentimento. A informação, racional ou não, pode ser transmitida por diversos canais e registos. As artes são disso exemplos nobres.
A música é interessante pelo facto de permitir o pensar e o sentir transmitirem-se pelos dedos e vozes O conceito de pureza é o menos sofisticado, mas depende redundantemente da capacidade de pensar do emissor e, simultaneamente poder ser escutada na sua harmonia, pelo receptor. Mas é, na verdade, menos fácil de perceber. É a primeira a distanciar-se do pensar para o sentir. A música como forma de comunicar é fantástica, sublime e transcendente... é para mim a arte das artes - os sons conseguem atingir um estado de profunda expressão sentimental. Situa-se então, enquanto arte, no mesmo espaço do falar ( mas é a este ascendente - numa árvore genealógica colocar-se-ía num primeiro grau de ascendência relativamente ao falar ). O sentir musical comunica, por via das " confusões ", com o corpo humano e este, por sua vez, transfere sensações físicas para os seus membros, tendões, músculos... e, como glória suprema da arte de comunicar, esse desenvolvimento motor e sensitivo encontra o milagroso momento em que é produzido o som, a harmonia, o êxtase! A pintura, como arte fascinante que é, peca em relação à música, pelo seu carácter estático. A música essa é apreciada no seu tempo, pela sua expressão corpórea e intrínseca, pelo seu equilíbrio no tempo - ( o tempo musical é de uma hipersensibilidade abismal - surge do fraccionamento deste no seu valor relativo de sons - ou mesmo, e poder-se-á dizer, no seu espaço ), e escatologicamente sentido no corpo, transmitindo sensações físicas a membros, que executam em gestos e toques, uma simples melodia... - Santo Deus! Quando penso neste menosprezo, neste tratamento que estou a dar a estas artes, como se fossem artes menores... cresceu em mim, de repente, um sentimento de ignorância e carente de sensibilidade. Valha-me a pobre pauta que me vai dando, gratuita e generosamente, pequenos momentos de prazer e de inteligência e que, por " falha humana " o confundimos muitas vezes com o sentimento de arte superior .

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